sábado, 14 de janeiro de 2012

Por que eu conheço a Cracolândia?


Meu nome é Fabian Penyy Nacer, tenho 44 anos. Fui dependente de drogas por 17 anos, dos quais passei seis anos vivendo nas ruas todos os dias do ano fumando crack 24 horas por dia. Passei um ou dois anos na Cracolândia e o restante na antiga Av. Água Espraiada. Desde que acordava de manhã, isto é, quando eu dormia à noite, precisava dar um “trago na pedra” em até 40 minutos senão meu corpo começava a tremer, eu começava a suar e ficar enjoado. Depois do primeiro trago eu tinha que fumar a cada 20 minutos para não passar mal. E assim eu passava 24 horas abordando pessoas na região do Campo Belo e Brooklin tentando arrumar dinheiro para comprar mais antes que o pouco que tinha acabasse.


Hoje estou fazendo pós-graduação em Dependência Química. Parei de usar drogas em 2003. Entrei para a Faculdade de Teologia e Aconselhamento em 2005 e me formei em 2011. Consegui também fazer quatro cursos técnicos na área do tratamento e da prevenção do uso e abuso de álcool e drogas. Nos últimos seis anos devo ter atendido voluntariamente por volta de 400 famílias que me procuraram por ajuda.

Estou enviando estes textos sobre a Cracolândia para mostrar algumas coisas que muitas pessoas não param para pensar. Conheço bem a vida de um “craqueiro”. Por seis anos fumei 10 a 15 pedras por dia, ganhava na rua, sem roubar, mais de R$ 3.000,00 por mês, fiquei um ano sem tomar banho e mais tempo ainda sem escovar os dentes. Quando a paranoia dominou minha mente, pesando 40 kilos, passei a entrar no vão dos bueiros de água para fumar crack dentro deles. Com o tempo aprendi a andar pelos túneis de esgoto da cidade vivendo como um rato.

Hoje estou bem. Me casei há 2 anos, minha esposa tem duas crianças que moram com a gente. Tenho um filho que conheci aos 10 anos de idade e hoje tem 16. Recuperei tudo que perdi e conquistei muito mais.

E é por ter vivido o problema e ter tido a oportunidade de estudar o problema que estou tentando mostrar algumas coisas simples que poderíamos fazer.

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