sábado, 21 de janeiro de 2012

Matéria Revista Veja



Matéria veiculada na Revista Veja em 21.01.2012



" Morei seis anos na rua. "
Conheci o crack aos 27 anos nos Estados Unidos, para onde viajei para fazer um curso de aviação. Quando voltei ao Brasil, só pensava nisso. Morei seis anos na rua. No final, pesava 40 kilos e pedia dinheiro nos semáforos. Foi num deles que conheci meu filho. Ele tinha 3 anos e estava no carro da minha ex-namorada. Estava tão 'noiado' que não tive reação nenhuma. Mas foi ele e a minha família que me deram força para ficar limpo. Ao todo, enfrentei 25 internações - cinco involuntárias. Quando finalmente consegui parar, em 2003, passei dois anos tomando remédios para controlar a ansiedade, recuperar a memória e a capacidade de raciocínio. Ia ao psicólogo três vezes por semana e ao psiquiatra mensalmente. Hoje, voltei a trabalhar e já consigo pensar no futuro. O crack destrói a capacidade de planejar,"

Fabian Penyy Nacer, 44 anos, administrador (SP). Passou por 25 internações.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Angela, obrigado pelo seu depoimento!

Olá Fabian,
Talvez vc nem saiba quem sou eu, mas queria dizer que fiquei muito feliz em saber que vc superou seu problemas com as drogas, deu a volta por cima e recuperou sua vida. Você foi o 1° caso de "antes e depois" das drogas que eu vi de perto; morava no seu bairro, tinha amizade com a Paloma e até hoje tenho com o Pablo e nunca vou me esquecer do dia em que fui atender a campainha de casa e você estava quase irreconhecível na porta, todo sujo, enrolado num cobertor como um mendigo...aquilo me chocou tanto...como aquele cara tão lindo que todas as meninas paqueravam, que era descolado, tinha um bar super legal (o Rock`n`roll), estudava e era de boa família tinha chegado àquele ponto?? Eu tive que falar com a Paloma porque eu não acreditava no que eu tinha visto...claro que infelizmente com o passar dos anos acompanhei outros casos, e é fato de que a maioria não conseguiu sair dessa vida, alguns até já se foram...mas queria te dar os parabéns e dizer que admiro o trabalho que você vem fazendo, tenho certeza que esse trabalho vai ajudar muitas famílias e pessoas que assim como você já se sentiram sozinhas e perdidas. Pode contar com minha divulgação! Belíssima iniciativa!
Abraço
Angela

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Meu pai contou minha estória na Rádio Estadão

Clique neste link e ouça a entrevista.

Adolescência e Drogas

Como posso fazer para evitar que meu filho experimente as drogas? PARTE 1

Para começar nossa conversa, sugiro que você esqueça as “drogas”. Mantenha seu foco no cigarro, no álcool das festinhas e na vida social agitada que eles têm. A faixa mais perigosa é entre os 12 e os 18 anos.

1. O cigarro é um assunto constante nos grupinhos. Mesmo sem terem experimentado, eles  vão estimular a curiosidade uns nos outros. Aqueles que já experimentaram vão fazer de tudo para que outros fumem, e aqueles que ainda não fumaram terão que ser fortes para resistirem a toda esta pressão e propaganda entre os amigos.

O problema não é o cigarro em si. É todo o pacote que vem junto com ele.

Provavelmente, estes jovens terão que fumar escondidos dos pais, professores etc. E neste contexto, entra todo o cuidado para não terem problemas quando fumarem. Existe a adrenalina de fumar escondido, as vantagens que contam para o grupo quando se esquivam das perguntas dos mais velhos, a aventura de conseguir mais um maço, e é aí que muitos se destacam no grupo por se arriscarem mais e não serem pegos. Alguns jovens vão pegar gosto pelo “pacote de aventuras do cigarro”, pois a nicotina, de fato, não tem muita graça.

2. A mesma propaganda do cigarro vai se repetir no álcool. Conforme a adolescência avança  estará cada vez mais perto o dia em que seu filho irá a uma festinha inocente de amigos que você conhece, que conhece os pais , que você vai levar e buscar e que vai ter álcool. Alguns jovens irão “ contrabandear “ este álcool para dentro da festinha até mesmo quando a festa é no salão de um deles e os pais estão próximos. Tem todo um “esquema” que eles montam. Alguns vão conseguir comprar a bebida ou vão pegar nas suas casas sem serem  descobertos. Outros ficarão encarregados de manipular esta bebida durante a festinha com discrição. Na verdade, não é que eles vão colocar a garrafa sobre a mesa no meio da festa e todos vão beber. Este álcool será consumido no início por alguns e, aos poucos, outros vão descobrindo. Os considerados mais “caretas  do grupo, percebem o que está acontecendo,  não se metem no assunto e na maioria das vezes não contam estes detalhes para os pais. Eles precisam administrar o que vão contar para os pais para não assustá-los. Não existe como os jovens mais responsáveis não conviverem com os mais imprudentes. Eles são o grupo. Só resta aos jovens passarem por este mar de experiências arriscadas com o menor dano possível. A tempestade da adolescência deve passar.

3. Tem jovens que fazem tudo muito bem, são dinâmicos, comunicativos, engraçados, inteligentes, são bons no esporte, são namoradores. Os pais ficam admirados como eles fazem tanta coisa ao mesmo tempo. Mas tudo bem, é coisa da idade! Às vezes, ele tem duas namoradas e como administra bem! Ah, normal, hoje em dia todo jovem é assim! Os pais quase sempre ficam sabendo das aventuras “ficantes” de seus filhos e acham normal. Por aí vai. E assim os pais realmente não tem evidências de que devem se preocupar mais com os comportamentos dos  filhos. Eles só são muito agitados, não param, estão sempre para cima e para baixo. Mas o que importa é que eles não mentem, não enganam, não fazem nada de errado. Mesmo quando os jovens têm tudo, amor dos pais, um clima bom em casa, nunca falta nada, os pais acreditam que estão presentes e que a situação está sob controle, ainda pode haver espaço para as drogas.

O problema é que às vezes a vida dos nossos filhos adolescentes é tão perfeita, tão completa e tão dinâmica que, infelizmente, alguns deles decidem experimentar as drogas  para ver se ela fica ainda mais emocionante.

Na parte 2 eu conto se podemos evitar e como fazer isso.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Matéria em jornal chinês sobre Tratamento de Acupuntura

 Matéria em jornal chinês referindo-se a uma de minhas internações, em 2000, em uma Clínica de Acupuntura.

Entrevista Rádio Estadão - ESPN






REPORTAGEM ESPECIAL

Conheça a história de um ex-usuário de droga que viveu na Cracolândia
Fabian Nacer fumava crack 24 horas por dia, mas depois de quase duas décadas de dependência, ele conseguiu se libertar. Confira reportagem de Camila Tuchlinski.


Clique nos links para ouvir:
Reportagem - Parte I
Reportagem - Parte II
Reportagem - Parte III
    

Carta publicada no ESTADÃO - Opinião

Juca Kfouri Comentarista CBN


Entrevista na página do jornalista Juca Kfouri, na CBN, que foi ao ar na quarta-feira, 11 de janeiro de 2012.
Ex-viciado explica propostas para tratamento de dependentes de crack espalhados pela cidade
Entrevista com Fabian Penyy Nacer, consultor em dependência química.

Clique
aqui para ouvir.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cobertura PORTAL G1 da Rede Globo

Matéria de 10 de janeiro de 2012.


  • G1  Globo São Paulo

  • Ex-dependente de crack faz pós em dependência química e dá palestrasFabian Nacer morou na região da Cracolândia durante seis anos. Ex-usuário chegou a ficar um ano sem tomar banho e perdeu dentes.


    Clique aqui para ler.

    Entrevista Rádio CBN - São Paulo


    " Não existe dor maior que a dependência do crack " , diz ex-usuário.
    Só quem já passou na pele a experiência de viver na cracolândia pode definir o que é isso. Ouvimos hoje no CBN São Paulo um relato de Fabian Penyy Nacer, ex-dependente químico e que hoje é consultor nesta área para clínicas e escolas.
    Fabian viveu pelas cracolândias de São Paulo por seis anos. Pedia dinheiro na rua, onde arrecadava mais de 3 mil reais por mês e usava tudo para comprar a droga. Venceu a dependência depois de 25 internações. Para ele, só é possível salvar um dependente com acolhimento e não com balas de borracha e cavalaria.

    Entrevista - Parte I
    Entrevista - Parte II

    Matéria do Terra


    Matéria exibida no site do Terra em 14 de janeiro de 2012.
    Por discordar de um termo usado pelo jornalista, escrevi a seguinte mensagem para ele após ler o texto publicado:

    Caro repórter Hermano Freitas eu gostei da sua matéria. Só quero reforçar que eu nunca uso a palavra “ força “, para que as pessoas não confundam internação involuntária que é contra a vontade do usuário com o uso da força, que eu sou completamente contra.


    'Tem que internar à força', diz ex-viciado da Cracolândia
    Clique aqui para ler.

    sábado, 14 de janeiro de 2012

    Eu morei na Cracolândia – Parte 2

    Enquanto existir quem queira usar droga sempre vai existir quem queira vender, e havendo vendedor e comprador o negócio sempre vai continuar.

    Alguns detalhes que precisamos prestar atenção a respeito da Cracolândia:

    1. A Cracolândia é três vezes maior do que aquilo que vemos nas ruas. Os outros 2/3 estão “enfiados” dentro de cortiços, de hotéis pulguentos e em outros buracos que a polícia ainda não conhece. Isso quer dizer que se tirarmos todos das ruas, nós só eliminamos a parte mais visível do problema (e também a menor).

    2. Já viu aquela cena que mostra de cima um monte de usuários de crack e aparece um outro sujeito com a mão cheia de pedra distribuindo a droga quando é cercado pelos demais? Isso não quer dizer que ele é traficante! Aliás, traficante mesmo nem anda por ali. Muitas vezes alguém do grupo é escolhido para buscar a droga para os demais, outras vezes um cara vai, pega cinco pedras e vende três para pagar seu uso. Traficante mesmo é trabalho de inteligência que começa na fronteira. O universo da Cracolândia não é somente composto de usuário e traficante.

    3. Tem sido divulgado uma quantidade enorme de abordagens. Se for somente para montar um relatório no fim do dia com o intuito de divulgar números não tem muita utilidade. Estas abordagens deveriam cadastrar cada usuário em um banco de dados único, com foto, classificando cada um de acordo com seu grau de periculosidade, grau de dependência química, atividades, família, origem, histórico para que possamos saber como agir, caso a caso, cada vez que o reencontrássemos nas ruas.

    4. Tenho visto na mídia algumas entrevistas de usuários que dizem desejaram parar. Sim, dependendo do momento que ele for abordado, ele vai dizer que quer parar, só que eles querem parar tomando uma pílula mágica que os faça não ter mais vontade da droga. Isso não existe. Eles não querem fazer a caminhada de volta que os levou para o fundo do poço, portanto nenhum usuário consegue sequer responder se quer ou não parar.

    5. Assistente social normalmente não é especialista em dependência química e colocá-los para tentar convencer um dependente a aceitar tratamento é exigir destes profissionais um poder de argumento fora do comum. Além disso, normalmente as abordagens ocorrem nas ruas, que não é o lugar mais adequado, e na frente de outros usuários, que também não é a situação mais adequada. Para completar, a abordagem é feita na hora que o assistente decide e não na hora que o usuário está mais suscetível.

    6. Esses dias, vi uma reportagem que diz que mais de 700 abordagens foram feitas e que 10% aceitaram tratamento. Ok, são 70 pessoas. Considerando que a OMS confirma que o índice de recuperação de quem se submete a um tratamento é de até 30%, estamos falando de 20 pessoas ou menos. É muito pouco para o tamanho e esforço da ação.

    7. O índice de recuperação de no máximo 30% é obtido em instituições privadas renomadas e caras, com equipes multidisciplinar de profissionais experientes. Se o governo não tem hospital para tratar dependente químico e terceiriza a internação, que resultados vamos obter se o governo paga 1/3 do valor mínimo necessário para tratar um dependente químico em instituições conveniadas?

    8. Sim, existe uma parte dos usuários que pode ser sensibilizada para o tratamento. Mas esta sensibilização não vai ocorrer espantando-os pela polícia. Poderíamos montar o “Casarão da Vida”, que funcionaria 24 horas por dia, oferecendo cama limpa, banho, comida gostosa, carinho, amor e compreensão. Eles podem até voltar para a rua no dia seguinte, mas vão se lembrar do respeito que receberam. Muitas vezes, nós conquistamos pessoas difíceis por insistirmos em fazer o bem para  elas, e não fazendo aquilo que elas tentam provocar em nós.

    9. É verdade que a maioria não vai se sensibilizar com nada, mas uma coisa é certa: usar drogas na frente de crianças e idosos, abordar e intimidar os moradores não é uma opção, e se não é opção, como é que podemos continuar perguntando quem quer se tratar? 

    10. Não existe como reprimir o consumo e o tráfico desarticulando o aglomerado de pessoas criando dificuldades para os usuários conseguirem a droga. São Paulo tem mais de 300 pontos de venda de drogas! Só na Avenida Jornalista Roberto Marinho, entre a Marginal do Rio Pinheiros e a Av.Washington Luiz, são aproximadamente 30. Ouvi um jornalista na rádio dizer que o usuário de crack não vai ter como escapar, pois ele precisa da Cracolândia e do aglomerado de pessoas, pois o crack não é uma droga social. Pois ele está enganado. Existe uma infinidade de modalidades diferentes de uso do crack. A paranóia faz com que alguns usuários precisem estar no meio de outros e ao ar livre para não se sentirem tão sufocados, pois eles não conseguem usar sozinhos e em lugares fechados. Mas pelo menos 70% dos usuários sente uma paranóia contrária. Justamente precisam usar sozinhos, pois em grupo ficam ainda mais paranóicos. E precisam usar em lugares fechados porque assim se sentem mais seguros. Por isso, como mencionei acima, 2/3 da Cracolândia nós não vemos.


    Entrevista para a BandNews FM

    
    
    Brasil
    13/01/2012 11:10
    O drama de quem entra no mundo do crack
    O crack empurra o usuário para um mundo paralelo e tira dele qualquer tipo de discernimento ou possibilidade de autonomia para tomar decisões.

    Essa declaração é de um ex-viciado ouvido pela BandNews FM, Fabian Nacer, de 44 anos. 
    Morador das Cracolândias de São Paulo durante seis anos, há 8 ele está longe das drogas:

    Clique aqui para ouvir a entrevista.

    Clique aqui para ler a matéria relacionada.

    Entrevistas Rede Globo SPTV e TVT

    Todas estas oportunidades na mídia têm acontecido devido a uma série de cartas que tenho enviado aos meios de comunicação, avaliando, opinando e propondo soluções para o tratamento dos dependentes de álcool e drogas.

    Esta reportagem foi do SPTV. 

    Também participei do programa Seu Jornal, da TVT, onde além da entrevista, também gravei um conselho para as mães dos usuários de drogas (dois próximos vídeos, respectivamente).



    Eu morei na Cracolândia - Parte I


    Hoje estou fazendo pós-graduação em dependência química. Fui dependente de drogas por 17 anos dos quais passei 6 anos na rua, onde dormia, comia, trocava de roupa e fumava crack 24 horas por dia.

    Até quando a polícia, o governo e as secretarias vão continuar decidindo o que fazer em relação ao problema das drogas em São Paulo sem ouvir os especialistas no assunto?

    Na última quarta-feira, 5 de janeiro, vi uma entrevista de um coordenador a respeito desta ação da polícia de espantar e espalhar os dependentes químicos da Cracolândia. Ele disse que a primeira etapa é uma ação de polícia e a segunda é uma ação social. Sim, só que não sobrará ninguém para fazer ação social, pelo menos não no centro da cidade.

    Também vi uma entrevista de um secretário que coordena esta ação e ele disse que primeiro devemos dificultar o uso das drogas para os dependentes, para que estes fiquem mais sensíveis e aceitem o tratamento. Esta é uma fala de quem realmente não entende como funciona a mente de um usuário de crack ou de alguém que não pode dizer ou fazer mais do que isto por outros motivos.

    Um “craqueiro“ vive para fumar e fuma para viver, esta é sua filosofia. O que precisar ser feito, ele fará. Com o tempo cada usuário vai aceitando fazer ou participar de coisas cada vez mais graves e comprometedoras, uma vez que sua doença é progressiva e o consumo tem que ser cada vez mais intenso. Costumo dizer que o avanço da doença é como se o dependente assinasse pactos com o diabo e vai outorgando a ele procurações entregando sua vida. Esta doença é demoníaca e dentro de cada usuário se instala um demônio especializado em algum tipo de falcatrua, golpe ou crime para conseguir mais droga.

    Como é que um “craqueiro” vai se sensibilizar com qualquer tipo de coisa se ele não experimenta mais nenhum tipo de sentimento, vivendo pela inércia como um zumbi pelas ruas?

    Até quando vamos continuar convidando educadamente cada usuário a aceitar tratamento?

    O que vai acontecer com esta ação na Cracolândia é que os usuários vão ficar por um tempo rodeando a área até perceberem que a ação terminou ou que ela não vai terminar e vão se instalar em outros lugares.

    O morador de rua e usuário de crack procura três coisas para se instalar em uma determinada região para viver e usar o crack:

    1. Ele precisa estar próximo de onde vai conseguir comprar a droga;
    2. Ele precisa estar em uma região onde circulem pessoas para que ele possa “acharcar” (pedir e enganar pessoas com estórias fabulosas) ou roubar.
    3. Ele procura estar em pontos ou situações que evitem que seja pego.

    Por isso, a Cracolândia se formou, porque o aglomerado de pessoas dificulta a ação da polícia e também porque muitos usuários de outras cidades que já precisam usar 24 horas por dia (e nas suas cidades ou bairros não conseguem) vão para a Cracolândia pela fama que ela tem de abrigar os “craqueiros“ e de prover recursos, possibilidades e lugares (buracos) para o uso.

    Sinceramente, se cada usuário perceber que a Cracolândia não vai mais se reestruturar eles vão se espalhar. São Paulo tem mais de 30 pequenas Cracolândias nas quais eles vão se instalar.

    A primeira etapa de uma ação na Cracolândia deveria ser recolher o usuário para uma internação involuntária de 30 dias para que ele possa ao menos voltar a pensar, a se comunicar e a conseguir conversar.

    A segunda etapa deveria ser dar a ele uma opção de tratamento em um lugar mais calmo, mais agradável e mais distante de São Paulo.

    Conforme vai se estruturando, ele vai conquistando regimes de tratamento cada vez mais abertos e uma maior relação de confiança.

    Se ele voltar para a rua e para o uso das drogas, repetimos tudo de novo até o vencermos pelo cansaço.

    Por que eu conheço a Cracolândia?


    Meu nome é Fabian Penyy Nacer, tenho 44 anos. Fui dependente de drogas por 17 anos, dos quais passei seis anos vivendo nas ruas todos os dias do ano fumando crack 24 horas por dia. Passei um ou dois anos na Cracolândia e o restante na antiga Av. Água Espraiada. Desde que acordava de manhã, isto é, quando eu dormia à noite, precisava dar um “trago na pedra” em até 40 minutos senão meu corpo começava a tremer, eu começava a suar e ficar enjoado. Depois do primeiro trago eu tinha que fumar a cada 20 minutos para não passar mal. E assim eu passava 24 horas abordando pessoas na região do Campo Belo e Brooklin tentando arrumar dinheiro para comprar mais antes que o pouco que tinha acabasse.


    Hoje estou fazendo pós-graduação em Dependência Química. Parei de usar drogas em 2003. Entrei para a Faculdade de Teologia e Aconselhamento em 2005 e me formei em 2011. Consegui também fazer quatro cursos técnicos na área do tratamento e da prevenção do uso e abuso de álcool e drogas. Nos últimos seis anos devo ter atendido voluntariamente por volta de 400 famílias que me procuraram por ajuda.

    Estou enviando estes textos sobre a Cracolândia para mostrar algumas coisas que muitas pessoas não param para pensar. Conheço bem a vida de um “craqueiro”. Por seis anos fumei 10 a 15 pedras por dia, ganhava na rua, sem roubar, mais de R$ 3.000,00 por mês, fiquei um ano sem tomar banho e mais tempo ainda sem escovar os dentes. Quando a paranoia dominou minha mente, pesando 40 kilos, passei a entrar no vão dos bueiros de água para fumar crack dentro deles. Com o tempo aprendi a andar pelos túneis de esgoto da cidade vivendo como um rato.

    Hoje estou bem. Me casei há 2 anos, minha esposa tem duas crianças que moram com a gente. Tenho um filho que conheci aos 10 anos de idade e hoje tem 16. Recuperei tudo que perdi e conquistei muito mais.

    E é por ter vivido o problema e ter tido a oportunidade de estudar o problema que estou tentando mostrar algumas coisas simples que poderíamos fazer.