quinta-feira, 6 de setembro de 2012

QUEM PODE CRITICAR O GOVERNO SOBRE O PROBLEMA DAS DROGAS?



Criticar o governo é fácil, mas a iniciativa privada trata do problema com desleixo, irresponsabilidade e ganância!
Está difícil encontrar uma instituição de ensino disposta a oferecer um programa de prevenção aos seus alunos. Da mesma forma, que é complicado encontrar centros de tratamento que priorizem a recuperação dos dependentes químicos ao invés de ganhar mais dinheiro.
Infelizmente, as escolas contratam minhas palestras sobre drogas uma vez ao ano, somente para poder dizer aos pais que já cuidaram do problema. Estou tentando mostrar aos diretores de escolas que palestras esporádicas não são suficientes para proteger os jovens. Mas não tem jeito! Aceitar e reconhecer que muitos de seus alunos podem estar envolvidos não é bom para a imagem da escola. Recentemente, ao terminar mais uma palestra, uma série de alunos adolescentes me procuraram espontaneamente para contar seu envolvimento com cigarro, álcool e maconha. A direção da escola tomou conhecimento deste fato. Sugeri coordenarmos um encontro com os pais dos alunos e abrirmos um espaço para os próprios alunos falarem abertamente. A direção explicou não ter interesse, pois, “levantar esta poeira não seria bom para uma instituição de ponta”. E TODAS as escolas são assim! Quando surge um caso de envolvimento de seus alunos fora da escola, eles ignoram o fato. E se o envolvimento ocorrer dentro da escola, procuram rapidamente resolver o inconveniente de forma que o problema não se espalhe e não preocupe outros pais.
As faculdades particulares não têm nenhum interesse em acabar com o consumo de álcool que centenas de seus alunos fazem nas dezenas de bares que ficam ao redor, apesar dos mesmos entrarem alcoolizados para dentro da instituição. Isto significaria perder clientes, pois muitos alunos não aceitariam, e talvez não conseguiriam obter o diploma se realmente tivessem que estudar e frequentar todas as aulas.
Tenho feito muitos contatos com profissionais e proprietários de comunidades terapêuticas e centros de recuperação. O que encontro cada vez mais são empresas comerciais explorando famílias desesperadas, oferecendo soluções mirabolantes através de seus sites com fotos da piscina e com facilidades de pagamentos em prestações parceladas no cartão de crédito. Muitas famílias estão vendendo o carro ou penhorando a casa acreditando na promessa de recuperação para seus filhos. Quando ofereço uma proposta de parceria que envolve uma série de cuidados para os pacientes internados e para suas famílias, eles me oferecem a oportunidade de captar internações para ganhar comissão. Lembro-me dos tempos em que passei por 25 internações e as clínicas tratavam minha mãe como um cliente que sempre voltava. Todas as vezes que eu recaía, nunca era responsabilidade da clínica e sim porque eu que não estava pronto.
Existe uma quantidade enorme de sites divulgando ter 10 ou 20 unidades de tratamento espalhadas pelo Brasil. Na verdade são atravessadores, que estão revendendo tratamentos em clínicas que muitas vezes nem sequer visitaram. As famílias ligam e pensam estar falando com uma clínica e não estão.
Para finalizar, até quando vamos continuar permitindo que nossos filhos adolescentes se iludam com as propagandas de cerveja?
Os comerciais mostram um monte de jovens bonitos e bem cuidados se divertindo muito e com responsabilidade. Não é isto que acontece quando dezenas de jovens bebem em festas e bares. Na propaganda não tem ninguém vomitando, mexendo com a mulher do outro e não tem briga. Não aparece ninguém caído no chão e não aparece ninguém experimentando as drogas depois de alcoolizado. Na propaganda todos bebem na medida certa, param no momento devido e chegam em suas casas direitinho, sem dirigir alcoolizados. Não é assim que acontece na vida real! Para completar os “gênios” da propaganda mostram uma série de brincadeiras e falcatruas que uns podem fazer com os outros enquanto bebem, sem serem pegos. Que tipo de mensagem é esta que estamos passando para os nossos adolescentes que são facilmente influenciados por tudo que veem? Ah! A propaganda não foi feita para os adolescentes? É somente para maiores de 18 anos? Então por que ela passa nos intervalos dos programas que os adolescentes assistem?
Meu nome é Fabian Nacer. Fui dependente de cocaína e crack por quase 20 anos e morei nas ruas da Cracolândia por 6 anos. Estou pedindo ajuda para encontrar instituições de ensino que estejam mais preocupadas com a vida dos adolescentes do que com sua imagem. Procuro formar parcerias que queiram oferecer tratamento responsável e competente para famílias que não podem pagar.

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