Criticar o governo é fácil, mas a iniciativa privada trata do
problema com desleixo, irresponsabilidade e ganância!
Está difícil encontrar uma instituição de ensino disposta a
oferecer um programa de prevenção aos seus alunos. Da mesma forma, que é
complicado encontrar centros de tratamento que priorizem a recuperação dos
dependentes químicos ao invés de ganhar mais dinheiro.
Infelizmente, as escolas contratam minhas palestras sobre
drogas uma vez ao ano, somente para poder dizer aos pais que já cuidaram do
problema. Estou tentando mostrar aos diretores de escolas que palestras
esporádicas não são suficientes para proteger os jovens. Mas não tem jeito! Aceitar
e reconhecer que muitos de seus alunos podem estar envolvidos não é bom para a
imagem da escola. Recentemente, ao terminar mais uma palestra, uma série de
alunos adolescentes me procuraram espontaneamente para contar seu envolvimento
com cigarro, álcool e maconha. A direção da escola tomou conhecimento deste
fato. Sugeri coordenarmos um encontro com os pais dos alunos e abrirmos um
espaço para os próprios alunos falarem abertamente. A direção explicou não ter
interesse, pois, “levantar esta poeira não seria bom para uma instituição de
ponta”. E TODAS as escolas são assim! Quando surge um caso de envolvimento de
seus alunos fora da escola, eles ignoram o fato. E se o envolvimento ocorrer
dentro da escola, procuram rapidamente resolver o inconveniente de forma que o problema
não se espalhe e não preocupe outros pais.
As faculdades particulares não têm nenhum interesse em acabar
com o consumo de álcool que centenas de seus alunos fazem nas dezenas de bares
que ficam ao redor, apesar dos mesmos entrarem alcoolizados para dentro da
instituição. Isto significaria perder clientes, pois muitos alunos não
aceitariam, e talvez não conseguiriam obter o diploma se realmente tivessem que
estudar e frequentar todas as aulas.
Tenho feito muitos contatos com profissionais e proprietários
de comunidades terapêuticas e centros de recuperação. O que encontro cada vez
mais são empresas comerciais explorando famílias desesperadas, oferecendo
soluções mirabolantes através de seus sites com fotos da piscina e com
facilidades de pagamentos em prestações parceladas no cartão de crédito. Muitas
famílias estão vendendo o carro ou penhorando a casa acreditando na promessa de
recuperação para seus filhos. Quando ofereço uma proposta de parceria que
envolve uma série de cuidados para os pacientes internados e para suas
famílias, eles me oferecem a oportunidade de captar internações para ganhar comissão.
Lembro-me dos tempos em que passei por 25 internações e as clínicas tratavam
minha mãe como um cliente que sempre voltava. Todas as vezes que eu recaía,
nunca era responsabilidade da clínica e sim porque eu que não estava pronto.
Existe uma quantidade enorme de sites divulgando ter 10 ou 20
unidades de tratamento espalhadas pelo Brasil. Na verdade são atravessadores,
que estão revendendo tratamentos em clínicas que muitas vezes nem sequer
visitaram. As famílias ligam e pensam estar falando com uma clínica e não
estão.
Para finalizar, até quando vamos continuar permitindo que
nossos filhos adolescentes se iludam com as propagandas de cerveja?
Os comerciais mostram um monte de jovens bonitos e bem
cuidados se divertindo muito e com responsabilidade. Não é isto que acontece
quando dezenas de jovens bebem em festas e bares. Na propaganda não tem ninguém
vomitando, mexendo com a mulher do outro e não tem briga. Não aparece ninguém
caído no chão e não aparece ninguém experimentando as drogas depois de
alcoolizado. Na propaganda todos bebem na medida certa, param no momento devido
e chegam em suas casas direitinho, sem dirigir alcoolizados. Não é assim que
acontece na vida real! Para completar os “gênios” da propaganda mostram uma
série de brincadeiras e falcatruas que uns podem fazer com os outros enquanto
bebem, sem serem pegos. Que tipo de mensagem é esta que estamos passando para os
nossos adolescentes que são facilmente influenciados por tudo que veem? Ah! A
propaganda não foi feita para os adolescentes? É somente para maiores de 18
anos? Então por que ela passa nos intervalos dos programas que os adolescentes
assistem?
Meu nome é Fabian Nacer. Fui dependente de cocaína e crack
por quase 20 anos e morei nas ruas da Cracolândia por 6 anos. Estou pedindo
ajuda para encontrar instituições de ensino que estejam mais preocupadas com a
vida dos adolescentes do que com sua imagem. Procuro formar parcerias que
queiram oferecer tratamento responsável e competente para famílias que não
podem pagar.
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